CIÊNCIA EM VERSO - DA MEMÓRIA E DOS FANTASMAS 
 
E assim não posso me impedir de o ósculo desejar...
Deste rosto arruinado pela lembrança, pela história...
Pelas sucessivas tentativas de matar-te em mim, de me livrar...
Desta assombração beligerante, que foi-me sublime na memória.

No vácuo inóspito de uma mente turbulenta
Repleta de um vazio quântico cheio de energia
Posto que não há meio elástico para a propagação de tua energia. 

Há sempre um zumbido silencioso, estrondoso.
De palavras vazias, golpes vividos, de boca já morta
Formam-se em lábios lívidos, de um branco escabroso
Que o éter, imaterial e desditoso, entre nós aborta.

Sou atingido por indistintos e amorfos sentimentos
Que como emanações eletromagnéticas, humores no éter propagam
me atingem em apenas alguns momentos
Mas ainda que fugidios e transfigurados, torrentes de phatos deflagram

Mas há, mesmo no ermo, vibrações que me alcançam!
Há vicissitudes inebriantes, sempre lacerantes, de fontes distantes.
De multifacetadas emanações de n caracteres que se trançam
Sim, há às vezes de entes imateriais impactos cortantes.

Posso ainda ver teu rosto, sujo vil e despedaçado
Entre outros tantos, caído na lama de olhos vazados
Articulando fala muda, com ódio nos globos vazios
Com pedidos de ajuda, de socorro, todos já tardios.

Mesmo em face do esgar de dor, da contração
               originada da espontaneidade
Não posso deixar de pensar que em  sua agonia és minha deidade
Porque tudo que é findo é pleno, ainda que eu; vivente, deseje o contrário
Ainda que isso seja acenar para o sempre iminente fim,
               meu maior corsário.

A ânsia incontida por brumas fantasiosas é talvez...
O que faz de mim presa tão fácil, tão dócil do desejo
Do teu riso mordaz, ver outra vez
Do sofrimento procurar, o ensejo.