A CONVERSÃO DO POETA

a conversão do poeta é a vida expressa num verso grande.
a vida de um poeta,
pensada antes dela,
refletida depois dela,
é o cotidiano-graça,
é a surpresa-palavra que encontra uma mão.
converto-me quando corajosamente olho a folha branca.
e assim,
diante do nada,
abandono tudo,
arrisco me desconsiderar,
permito-me brincar,
fico vulnerável,
vivo homem,
sou poeta.

antes da conversão de um poeta,
a confusão une as disparidades
e inspira um sorriso.
antes do novo poeta nascer,
já há beleza:
escondida no velho
,
apaixonado por versos antiquados,
por inspirações passadas.
nesse lugar antes da folha branca,
existem lembranças que independentes passeiam.
a multidão de letras e o poeta ali,
no meio,
perdido.

depois da conversão de um poeta,
prodígios sensoriais.
há um gozo literário que,
por instantes belos,
consola suas mãos cansadas.
nesse lugar depois da folha branca,
existe uma razão,
uma esperança,
uma solução para um mundo velho,

bem menor do que o que acaba de nascer.