O VIRTUAL NO SARAU OU O SARAU VIRTUAL
Com o Álbum Palavra, temos experimentado formas outras de interação. Explico: tenho insistido que o virtual tem cara própria, fazendo-se faceta de uma mesma realidade da qual o material também participa. Ambos interagem e as práticas do “mundo material” passam a ser permeadas, decididas e elaboradas a partir da influência do “mundo virtual”. E vice-versa. Na verdade, é um mundo só, acrescido das possibilidades que emergiram com o desenvolvimento e disseminação da tecnologia digital.
No Álbum, degustamos uma interação distinta. Aqui, as imagens, textos, músicas, mensagens e demais informações vão se elaborando a partir do clique do leitor. Que passa a ser construtor da própria poesia: ao navegar por esse espaço poético, as escolhas de cada um – os hiperlinks – elaboram sentidos pessoais para aquilo que está à disposição de todos. Elaborar sentidos poéticos: tarefa de poeta... Pois é, na Web o leitor também é poeta. A Web 2.0 chega também à poesia.
Ao apresentar minhas poesias e músicas nesse formato, juntamente com textos de outros autores que dialogam com a produção autoral, escrevo novas poesias estabelecendo hiperlinks entre elas. Onde começa e onde termina a poética virtual?
Quando encontramos um site poético no Ciberespaço, encontramos não um texto poético, mas um espaço. No nosso caso, construímos propositalmente um ambiente que propicia a interação do leitor. Interação com a própria obra e também por meio dos diversos canais de comunicação interpessoal que são indicados no Álbum, como e-mails, blogs e sites de relacionamento. E assim, de fato, tem acontecido: poetas que talvez nunca se encontrassem materialmente, não só se encontram no espaço virtual, mas colocam em prática a colaboração.
Assim, a obra aberta anunciada por Umberto Eco vai se firmando, em uma tela digital em qualquer lugar do planeta. A arte digital, nessa perspectiva, não se apresenta como um produto acabado. A proposta do artista é lida na forma que suas páginas virtuais são elaboradas, interligadas e atualizadas, o sentido poético é a leitura das “costuras” que artista faz das mídias digitais à sua disposição. É, ainda, resultado de sua interação nas redes onde está inserido.
O Sarau Virtual, agora disponível no ambiente do Álbum Palavra, torna possível enxergar com mais nitidez a intencionalidade desse trabalho. Vários poetas interagiram entre si e com o conteúdo do Álbum. Interação promovida pela definição de hipelinks entre as obras, pela possibilidade de ampliar o conhecimento de sua produção por meio da indicação de seus blogs, pelo contato que pode acontecer a qualquer instante no correio eletrônico. O resultado é um trabalho belíssimo, que me deixa honrado pela qualidade que apresenta.
Na Web, a persona é identificada pelos registros que deixa, mudando, inclusive, a relação temporal. Passado e presente se confundem, devido à assincronicidade do acesso às informações. A presença não se faz mais somente pela ocupação do corpo no espaço, mas pelos registros que esse corpo realiza no Ciberespaço.
A interação entre poetas, comum a qualquer sarau, aqui acontece por meio da interação dos discursos de cada um. Os vínculos e a proximidade dos sentidos poéticos são explicitados na tela do leitor, a qualquer tempo. Um sarau assíncrono, e completamente virtual, portanto. Pronto para se atualizar assim que o leitor – que também é poeta, não esqueçamos – decidir.
Eros Trovador
Agosto de 2009