ABANDONO

ABANDONO

desde o dia em que algumas palavras,
dentro de mim,
fizeram sua conferência
e se revoltaram
e fugiram,
fiquei sem a minha companhia.
hoje, no entanto,
despertei-me com aquele que julgo ser,
em minha percepção sonolenta,
um dos últimos suspiros de uma palavrinha,
boba e teimosa
– e medrosa –
que insistiu em ficar escondida,
em algum canto confortável que de mim ainda restou.
aquela idiotinha,
quase morre de inanição!
mas foi ela que me despertou…

perdi as palavras,
não as lembranças!
e ainda recordo como que se pega na caneta,
como que se abraça o mundo
como que se engole as lágrimas.

não fugiram as palavras,
fugi eu
.
do quê,
ainda não sei.
ou, se sei,
faltam as palavras para explicá-lo.

ai, como se parece comigo a palavrinha boba.
tão insistente,

esperando que o mundo acorde.